'Eu havia reclamado, insensata, do vácuo que se vive entre amores. Ousei dizer que esses espaços de tempo entre desencanto e
reencanto eram lacunas de morte dentro de uma vida. Tropecei feio no
comentário. Vejo agora: estava acomodada naquela trincheira. Escondida e adorando.
Água, sombra e uma paz paradisíaca. O reamor veio em minha vida nas horas mais
oportunas, mas dessa vez, sinto, veio pra me apavorar. Puxou pelos braços,
pelos cabelos, pelas vísceras. Eu não quis. Não agora. O desejo era livre, errante, como a dona; não tinha
direcionamento, e, por isso, não tinha limites, o que me fazia sentir imensa e
invencível. Eu sabia, em alguma esquina de mim mesma, que era uma questão de
tempo até aquele desejo encontrar um novo objeto para se fixar. O perigo dessa
iminência, dessa vulnerabilidade nos meus afetos me excitava e me fazia sorrir
com cada encontro, desencontro, despedida. Deixei vagar. Perdeu-se de mim. Voltou antes que eu chamasse. Teimoso.'