26.9.11

madrugada e amor

Elephant Gun by Beirut on Grooveshark


Meu conceito de amor esteve quase sempre relacionado a movimento – e eis que você hoje balança esse que é de certo um dos meus conceitos mais fundamentais. Amor é movimento. É o que impulsiona. Certo? Errado – você tem me mostrado há alguns meses a capacidade que temos de ficarmos inertes diante de um sentimento novo. Estou aqui, sentindo sem dizer, escrevendo sem mostrar, desejando sem admitir. É madrugada e tudo o que eu fiz nas últimas horas foi o pensamento nas minúcias das nossas lembranças disfarçado de tentativa de sono. Eu nem quero esse sono. Sorrio sozinha, movimentada pelas expectativas escondidas em cada aresta de cada lembrança, em algo que foi dito de tal forma ou feito de tal jeito. É, pois, uma inércia seletiva, pois eu já cheguei a você, mas cheguei com limites muito bem definidos – e dizer com palavras certeiras o que tenho sentido esteve fora de cogitação. Estou inerte frente ao que eu sinto, esperando um primeiro passo seu que me dê a sensação de movimento, como quando o trem ao lado acelera e nós, de súbito, não nos sentimos mais parados.

Você não faz idéia, mas eu tenho escrito sobre a gente, e como; você nunca soube que um dia seria um desses caras por quem eu gasto os dedos e as palavras. Não soube que hoje é por você que eu encho os pulmões em um refrão que faz um determinado sentido, no meio de outros pulmões que expressam os próprios afetos para além de si. Eu sou essa pessoa hoje, melhor: você é essa pessoa pra mim. O impulsionante. E não conseguir dar movimento a toda essa experiência que tenho dentro de mim tem me transtornado bastante. Não digo falta de coragem; muito mais de perspectiva. Acho mesmo que, em algum lugar da minha vida e da sua, nossos caminhos tornaram-se paralelos e nunca mais vão se cruzar.

Que eu esteja errada.

2011.