20.7.11

conversinha sobre a dor passageira

Walking After You by Foo Fighters on Grooveshark


- Posso fazer um comentário?
- Pode.
- Eu nunca vi um olhar tão triste como o seu. Você precisa de ajuda?
- Poxa, obrigada.
- É sério, moça. Que olhos tristes. Expressivos demais. Talvez se você chorar, põe um pouco pra fora dessa tristeza. Chora um pouco. Os seus olhos estão de desabar o mundo inteiro junto. Cuidado com isso.
- Eu posso fechar os olhos, se estiver incomodando.
- Não, moça. Estou tocada pela sua tristeza. Não é pena, não, pena é feio. Mas me deu uma vontade enorme de compartilhar dessa sua tristeza. Como se eu fosse uma psicóloga.
- Engraçado, e a psicóloga sou eu.
- É sério, moça? Eu não sabia mesmo que dava, isso.
- Dava?
- É, tristeza.
- Como?
- Não sabia que psicólogo ficava triste.
- Quem me dera um diploma me separar dos meus problemas!
- Seus olhos sorriram agora, moça. Seus olhos são quase gente.
- Os olhos sorriem, mesmo.
- Mas você ainda está, né?
- O que?
- Triste.
- Bastante.
- Fica assim não, moça. Vai passar.

2010.

às que buscam - e esbarram com as faltas

L'amour by Carla Bruni on Grooveshark

Às vezes falta gesto amplo, palavra sutil, falta carisma, calor, carência; às vezes falta feromônio ou bondade - e quando falta feromônio e bondade, aí, amigo, eu quase não lhe cedo tempo para que me ganhe aos miúdos, em parcelas -, às vezes falta um time certo, uma família certa, uma certa estrutura que me instigue a um encaixe, a um colo; falta consistência ideológica, um palmo a mais, idade a mais, um pau duro; falta até mesmo um resto no coração injuriado, que lhe dê a esperança quase que infantil de se permitir à felicidade, resto feio, mal varrido, mas habitável; falta bom gosto, bom cheiro, bom senso; faltam excessos, ironicamente, excessos, que mantêm as loucuras inerentes à construção de um sujeito são.
E faltam pessoas dentro dessas pessoas, isso é grave - e é algo de que, confesso: tenho muito medo.
2010.

da arte de comer quieto

Estive segurando um sentimento imenso em meu bolso, toque instável e mão firme; a esperança inútil, boba, incoerente - e eu não o sei? - de mantê-lo seguro do mundo, seguro de mim mesma, dos outros, do outro, quase como a Bruna que há uns quinze ou dezesseis anos apareceu em frente à família pedindo por biscoitos - a boca já suja de farelos de chocolate. O meu não-dito me grita.

Esse esforço pra esconder o que eu sinto, a que me leva? A quem me leva?



2011.

testando: céu azul e palavrinhas

Só não precisava daquela cafonalha de avião ali no no canto, né?

Fundo novo. Melhorou.