9.11.11

fazer das tripas coração

Não Existe Amor em SP by Criolo on Grooveshark

Vamos desistir do que claramente se quer? Vamos acolher o luto que vem pela frente ao finalmente parar de refutá-lo? Vamos buscar outra rota quando nenhuma dessas outras rotas parecem possuir atrativos? Vamos - o que mais há para se fazer se não o fazer da sábia desistência, do não-fazer? Eu vou, não, você vai: eu só fico.

Tenho clara consciência do que quis para mim, não, do que quero, ainda, e eu não vou vestir meu sorriso no dia de hoje, não me cabe, só me pesa. Se possível, vou passar o dia em casa, vou me deitar no seu lado da cama, escutar uma daquelas suas músicas favoritas que eu sempre coloquei como se fossem nossas, no meu delírio a gente era assim, meio conjunto o tempo todo, e vou me amparar mais um pouquinho, não pretendo telefonar aos amigos, todo mundo já sabe do que se sucede entre eu e você, é chover no molhado, a gente foi até insistente demais na cisma de se servir um pro outro. Nosso problema é o molde de afeto, minha peça de quebra-cabeça é exatamente como a sua, e justamente por isso impassível de ser encaixada uma na outra.


Deixar pra lá é uma prática que me exige demais. Faço, mas faço com dor no peito, pressão nas têmporas, borrão nos olhos. Deixar você pra lá nunca esteve nos meus planos. Pra onde eu devo ir agora?


Ariel: What? What are you thinking?

Andrew: Nothing. Only that our whole lives might
have been different if only I had acted.



2011.

31.10.11

versinhos dos meus 15 anos

Boo (Album Version) by Macy Gray on Grooveshark


Coisas que resgatei. De muito antes de qualquer desilusão, de antes da acidez que a vida traz. Valsinhas. No tempo da maldade, acho que eu não tinha nem nascido.


Toda hora chega a hora
Estou por ora no agora
Enquanto não chega a Hora
Vou-me embora mundo afora


Minha hora está chegando
Minha vida se acabando
E eu aqui contando as horas.


*
Minha saudade
De tão teimosa
Tão impaciente
De tão
Materializou-se por completo
Decidiu tornar-se gente

Não te preocupes mais, meu bem
Com os nossos assuntos pendentes
Minha saudade conversa baixinho
Sentada na tua frente


2005.

23.10.11

os anos dourados


   O rapaz deu um tiro no queixo. Explicaram os mais próximos:
   -  Foi amor.
Era pouco adoecido, o rapaz. Bastante adolescido. Das intensidades afetivas, dos pôsteres que cobrem paredes inteiras, do sofrer pelo dia de ontem e nada pelo de amanhã. A arma era do pai - foi um tiro de ensaio, de teste, um tiro que há muito não se intuía àquele revólver. A morte é o único esporte em que a sorte de principiante já lhe basta. Deu azar, o menino. Deu sorte.

*

   Do que se estraga, do que se mastiga mas não se engole, do que se descarta, do que se modifica, o que é que ainda que fica? Quem é você, nesse resto de vida? Quem você optou por não ser?
 

2011.

do não-dito

Lost Cause by Beck on Grooveshark


Se eu freasse meu carro junto à calçada. Se eu apenas buzinasse e gritasse seu nome. Se eu alguma-coisa-qualquer-coisa fizesse, talvez não acordasse hoje com você me ocupando o pensamento. Mas não. Que não seria somente o seu rosto que se voltaria para mim ao meu chamado – você estava acompanhada.

Passei atordoado pelos dois, sentindo a garganta se estreitar. Mantive-me atento ao retrovisor: você ria com a cabeça para trás, andava trocando um pouco as pernas, estava visivelmente embriagada, mas em um contentamento muito sincero. Roubou um beijinho no pescoço do cara, próximo à orelha, e eu quase pude sentir um eco da sua risada no meu próprio ouvido, já em outra esquina, já longe, já perdendo um pouco o propósito de aonde eu ia e a que ia. Perdendo. A palavra perder está recorrente por aqui.

Não sei em que ponto a gente se perdeu um do outro. Acho que são as tais coisas, dizem, que não são pra ser.'

2011.

12.10.11

minha definição de saudade

Waiting All Day by Silver Chair on Grooveshark

Força tal qual a gravidade, perturbação contínua e pungente, um morar em lembranças no qual só se entra pelas frestas da janela pois não se tem mais a chave da porta, a fantasia de conversas que poderíamos ter e das expressões que seu rosto faria e do que eu diria se isso ou se aquilo, a urgência por conselhos que não sigo, a vontade de cuspir tudo aquilo que anseio sem pesar nem mesmo as vírgulas, a tortura que é esperar por sinais e certezas que teimam em não virem ou que vêm lentas demais - a infelicidade.

(Saudade-gostosa-de-se-sentir não é saudade. Tomem nota)


2011.

26.9.11

madrugada e amor

Elephant Gun by Beirut on Grooveshark


Meu conceito de amor esteve quase sempre relacionado a movimento – e eis que você hoje balança esse que é de certo um dos meus conceitos mais fundamentais. Amor é movimento. É o que impulsiona. Certo? Errado – você tem me mostrado há alguns meses a capacidade que temos de ficarmos inertes diante de um sentimento novo. Estou aqui, sentindo sem dizer, escrevendo sem mostrar, desejando sem admitir. É madrugada e tudo o que eu fiz nas últimas horas foi o pensamento nas minúcias das nossas lembranças disfarçado de tentativa de sono. Eu nem quero esse sono. Sorrio sozinha, movimentada pelas expectativas escondidas em cada aresta de cada lembrança, em algo que foi dito de tal forma ou feito de tal jeito. É, pois, uma inércia seletiva, pois eu já cheguei a você, mas cheguei com limites muito bem definidos – e dizer com palavras certeiras o que tenho sentido esteve fora de cogitação. Estou inerte frente ao que eu sinto, esperando um primeiro passo seu que me dê a sensação de movimento, como quando o trem ao lado acelera e nós, de súbito, não nos sentimos mais parados.

Você não faz idéia, mas eu tenho escrito sobre a gente, e como; você nunca soube que um dia seria um desses caras por quem eu gasto os dedos e as palavras. Não soube que hoje é por você que eu encho os pulmões em um refrão que faz um determinado sentido, no meio de outros pulmões que expressam os próprios afetos para além de si. Eu sou essa pessoa hoje, melhor: você é essa pessoa pra mim. O impulsionante. E não conseguir dar movimento a toda essa experiência que tenho dentro de mim tem me transtornado bastante. Não digo falta de coragem; muito mais de perspectiva. Acho mesmo que, em algum lugar da minha vida e da sua, nossos caminhos tornaram-se paralelos e nunca mais vão se cruzar.

Que eu esteja errada.

2011.
               

20.7.11

conversinha sobre a dor passageira

Walking After You by Foo Fighters on Grooveshark


- Posso fazer um comentário?
- Pode.
- Eu nunca vi um olhar tão triste como o seu. Você precisa de ajuda?
- Poxa, obrigada.
- É sério, moça. Que olhos tristes. Expressivos demais. Talvez se você chorar, põe um pouco pra fora dessa tristeza. Chora um pouco. Os seus olhos estão de desabar o mundo inteiro junto. Cuidado com isso.
- Eu posso fechar os olhos, se estiver incomodando.
- Não, moça. Estou tocada pela sua tristeza. Não é pena, não, pena é feio. Mas me deu uma vontade enorme de compartilhar dessa sua tristeza. Como se eu fosse uma psicóloga.
- Engraçado, e a psicóloga sou eu.
- É sério, moça? Eu não sabia mesmo que dava, isso.
- Dava?
- É, tristeza.
- Como?
- Não sabia que psicólogo ficava triste.
- Quem me dera um diploma me separar dos meus problemas!
- Seus olhos sorriram agora, moça. Seus olhos são quase gente.
- Os olhos sorriem, mesmo.
- Mas você ainda está, né?
- O que?
- Triste.
- Bastante.
- Fica assim não, moça. Vai passar.

2010.

às que buscam - e esbarram com as faltas

L'amour by Carla Bruni on Grooveshark

Às vezes falta gesto amplo, palavra sutil, falta carisma, calor, carência; às vezes falta feromônio ou bondade - e quando falta feromônio e bondade, aí, amigo, eu quase não lhe cedo tempo para que me ganhe aos miúdos, em parcelas -, às vezes falta um time certo, uma família certa, uma certa estrutura que me instigue a um encaixe, a um colo; falta consistência ideológica, um palmo a mais, idade a mais, um pau duro; falta até mesmo um resto no coração injuriado, que lhe dê a esperança quase que infantil de se permitir à felicidade, resto feio, mal varrido, mas habitável; falta bom gosto, bom cheiro, bom senso; faltam excessos, ironicamente, excessos, que mantêm as loucuras inerentes à construção de um sujeito são.
E faltam pessoas dentro dessas pessoas, isso é grave - e é algo de que, confesso: tenho muito medo.
2010.

da arte de comer quieto

Estive segurando um sentimento imenso em meu bolso, toque instável e mão firme; a esperança inútil, boba, incoerente - e eu não o sei? - de mantê-lo seguro do mundo, seguro de mim mesma, dos outros, do outro, quase como a Bruna que há uns quinze ou dezesseis anos apareceu em frente à família pedindo por biscoitos - a boca já suja de farelos de chocolate. O meu não-dito me grita.

Esse esforço pra esconder o que eu sinto, a que me leva? A quem me leva?



2011.

testando: céu azul e palavrinhas

Só não precisava daquela cafonalha de avião ali no no canto, né?

Fundo novo. Melhorou.