5.3.12

sempre me enxerguei como sendo meio diferente do resto

Pumped Up Kicks by Foster the People on Grooveshark

Falo em um lirismo que ninguém interpreta direito. Meu olhar pega coisa que pouca gente vê. Percebo agora onde é que essas pontes se racham. O meu modo de funcionamento deve ser muito esquisito ao olho cru.

Sou uma pessoa de pele clara e cabelo escuro entre loiras-castanhas queimadas de sol. Tenho gostos peculiares e me importo com uns assuntos fora de pauta. Meu carioquês é meio fajuto e dá pau de vez em quando. Não como carne. E nem peixe - o pessoal cool tem adotado esse vegetarianismo às avessas em que se come frango e peixe, nunca entendi isso. O meu brinco é de um lado só. Minhas gírias são do fundo do baú. Eu escrevo, o que já me molda o olhar de uma tal forma que causa ruído em algumas relações; tem sempre alguém pra censurar meu lirismo fora de hora, ou rir dele. Gente que escreve tem uma tendência a ver tudo muito cheio de sentido. Eu chamo de um olhar desmerdificador - qualquer coisa serve, qualquer merda rende. Eu vejo uma graça a mais nas coisas, fazer o quê.

Sou fascinada por algumas esquisitices. Carrosséis, estrelas e animais me fazem sorrir. Tenho um pé na infância e outro na idade adulta, fazendo espacate, que a vida não esperou o meu amadurecimento e nem vai esperar o seu. Escuto música que nem adolescente - as pessoas vão envelhecendo e ficando chatas com a música, música vira plano de fundo do jantar. Eu não consigo manter sequer uma linha curta de pensamento enquanto a voz do artista ecoa e me perturba e me invade a mente e os afetos. A música me atravessa, ainda - eu sou adolescente musicalmente. Ainda conheço a sensação da idolatria. Tenho uma tatuagem com uma frase de um filme pouco estimado pela mídia, e meus amigos têm borboletas e tribais do Google. Como foi que aconteceu de eu ser tão à parte do mundo e me dar conta disso agora?

Eu sou um ponto preto em meio a uma imensidão de pontos brancos, e isso me transtorna. Tenho pra mim mesma que eu deveria admitir essas nuances pessoais como qualidades da minha singularidade, mas a sensação primeira é de que a distoância é um modo desconfortável de existir. Existe essa palavra? Distoância? Eu invento. Cabe ao meu senso. Meu senso de ridículo, meu senso de estética, de padrão, de normas parece ter um limiar um pouco diferente do que se propõe.

Sou diferente, ou vai ver sou igual, o mundo é que ainda não saiu do armário pra combinar comigo.


2012.