Uma amiga minha, alemã, trocava algumas palavras em seu português recém-aprendido:
- Comi algo que estava
mau.
Teve uma vez que ela disse, para descrever um lugar que era ruim:
- Era um lugar muito
mau.
Ela não fazia ideia que o verbete, colocado desta forma, tinha esse tom tão negativo. "Mau" pesa qualquer frase, repare só. "Mau" para nós, nativos da língua, é quase carro-chefe do grupo de palavras de "vilão", "maldoso" e "cruel". Para a Lena, era só uma palavra. E a que mais se entendia e funcionava. Faz todo o sentido do mundo sua confusão semântica, já que "mau" e "ruim" são, ambos, antônimos da mesma palavra: bom.
Em homenagem - e como uma espécie de registro em licença poética pra Lena -, vou utilizar o
mau pra escrever um pequeno desabafo.
Olha: foi um ano
mau. Falta uma semana para o meu aniversário, e só consigo pensar: que força é essa e de onde chegou esse pacote pra mim? Como eu consegui contornar acontecimentos
maus e extrair o melhor deles? Como estou de pé ainda? Como enterneci, se era pra eu ter virado uma pessoa
mau depois de sucessivas desgraças?
Acho que é isso que chamam de aprendizado. A vida não pode ser
mau. A vida não pode dar errado. É só a existência colocando fermento - e até beleza - nos pedaços cruciais, nos elos que dão sentido a todo o roteiro.
"Existence cannot go wrong." - Osho