7.11.16

para-raio

Mas essa garota só atrai gente pirada. 

"Atrair maluco" é um presente. Vem em forma de investimento: enriquece a longo prazo o meu olhar. Digo que atrair essas vivências é experiência do divino, pois me presenteia com o melhor dos dois mundos. Transcende.
Se amanheço trabalho, boleto e checklist, vou dormir céu, pitanga e Almodóvar.
Se debato os rodapés das revistas de fofoca, retorno ao silêncio em devaneios sobre todo o sentido da existência.
Tenho em mim a vitalidade da loucura e o contínuo da normalidade. Tenho em mim a dor das mentes incoerentes e o peso das nucas engravatadas.  
Presenciar loucuras me deu mais lucidez e autenticidade em meu sentir. As verdades neuróticas me deram o contorno. As insanidades me deram as cores para pintar por dentro.
Gente que pisa fora da normalidade é uma benção pra nós, que usamos despertadores, que nos preocupamos com prazos fictícios e toda essa ilusão irresistível da ideia de existir um só tempo. Mania de linearidade.
Empresto um pedaço de mim aos balbucios. Me doo. Aos napoleões e antonietas. Às piscinas de gelatina. Às construções que se comunicam pelos arranha-céus. Aos desenhos que tomam corpo e vida. Às cantorias incoesas e às cenas gregas. Me doo em parcelas ao enlouquecimento com que me criei artisticamente - e ao qual devo boa parte de minha consciência emocional. A gente se reconhece na loucura dos outros. A gente se reintegra dentro da nossa.

Enlouqueci no morninho da vida: pipoca só estoura no fogo.